Baleia nadando

Navegando na exposição cambial

Investir no exterior visando explorar a exposição cambial pode ser uma forma de diversificar o seu portfólio, aumentar o seu potencial de retorno e reduzir riscos. No entanto, é preciso ter conhecimento, planejamento e estratégia para navegar nesse mercado e aproveitar as oportunidades que ele oferece.

TAKEAWAYS

  • A exposição cambial é a medida de quanto o valor de um ativo, rendimento ou fluxo de caixa pode mudar devido às variações nas taxas de câmbio. Ela pode impactar tanto o risco, quanto o retorno dos investimentos.
  • Existem várias maneiras de gerenciar o risco cambial como a análise de sensibilidade ou instrumentos financeiros que tentam atenuar os efeitos da exposição a moeda estrangeira.
  • O investimento no exterior permite explorar empresas e setores que não estão disponíveis no mercado brasileiro – e que poderão dar exposição cambial. Os brasileiros têm aumentado significativamente seus investimentos em ativos estrangeiros.
  • Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) de ETFs permitem que você invista em empresas de diversos setores e países, sem precisar abrir uma conta no exterior ou lidar com a burocracia e os custos de operar em moedas estrangeiras. Atualmente, há 141 BDRs de ETFS lastreados em ETFs geridos pela BlackRock.

O IMPACTO DA MOEDA

Discutir como a exposição cambial pode impactar os investimentos e como gerenciar esse risco na realidade brasileira é um fator importante para os investidores. A exposição cambial é a medida de quanto o valor de um ativo, rendimento ou fluxo de caixa pode mudar devido às variações nas taxas de câmbio. É crucial porque pode afetar tanto o desempenho dos ativos estrangeiros, quanto dos ativos locais que possam ser impactados pela variação cambial.

A exposição cambial também pode ser usada como uma ferramenta para expressar sua visão de mercado e convicção. Por exemplo, se você tem uma visão positiva sobre o real brasileiro, você pode aumentar sua exposição a essa moeda, comprando ativos denominados em reais ou vendendo ativos denominados em outras moedas. Por outro lado, se você tem uma visão negativa sobre o dólar americano, você pode reduzir sua exposição a essa moeda, vendendo ativos denominados em dólares ou comprando ativos denominados em outras moedas.

O investimento no exterior permite explorar empresas e setores que não estão disponíveis no mercado brasileiro. Nos últimos anos, os brasileiros aumentaram significativamente seus investimentos em ativos estrangeiros. Em 2023, os investimentos de brasileiros no exterior somaram US$ 4,374 bilhões, muito acima do ano anterior, quando o saldo foi negativo em US$ 142 milhões.1

O valor de um ativo em moeda estrangeira pode tanto valorizar quanto depreciar, assim como a moeda na qual ele é negociado. Esses dois componentes - o valor do ativo no mercado estrangeiro e o valor da moeda estrangeira - são independentes e constituem o que chamamos de retorno total do ativo. A exposição cambial, portanto, pode ser vista como uma ferramenta adicional para o investidor obter retorno.

Assim, ao investir no exterior é preciso estar atento à exposição cambial e o efeito que as variações nas taxas de câmbio têm sobre o valor dos investimentos. Ela pode impactar tanto o risco quanto o retorno dos seus investimentos, dependendo da moeda em que eles são denominados e da moeda que você usa para medir o seu patrimônio.

A REALIDADE NO BRASIL

O real brasileiro tem sido historicamente uma das moedas mais voláteis do mundo na última década, segundo nossa análise usando dados da Bloomberg – tanto em relação às principais moedas dos mercados desenvolvidos quanto dos mercados emergentes. Isso significa que o real pode ter grandes oscilações de valor em curtos períodos, afetando o valor dos investimentos em reais e em outras moedas. 

A volatilidade do real em relação a outras moedas é alta. Desde 2020, a volatilidade da taxa de câmbio do dólar americano e o real (USD/BRL) tem sido acima da média histórica2: aumentou drasticamente com o início da pandemia de Covid-19 no Brasil e persiste até hoje, embora não tenha retornado aos níveis pré-pandêmicos.

Ao analisar a volatilidade anualizada de várias moedas nos últimos 10 anos, até o final de março de 2024, percebe-se que o real tem uma volatilidade historicamente superior. O risco associado ao real foi de 15.5%, enquanto o euro apresentou um risco de 7.4%, a libra de 8.5% e o iene de 9%, segundo dados de Bloomberg.

Mesmo ao comparar com moedas de países fortemente ligados a commodities, a volatilidade do real ainda é maior. O dólar australiano teve um risco anualizado de 10.1% e o dólar canadense de 7.7%. Além disso, ao examinar moedas da América Latina, como o peso mexicano (11.6% de risco anualizado) e o peso chileno (12.4% de risco anualizado), o real ainda se destaca por sua volatilidade mais alta.

No entanto, é importante notar que a volatilidade é apenas um componente do risco . A correlação entre ativos locais e estrangeiros, que pode ser positiva (movem-se juntos) ou negativa (movem-se em direções opostas), é crucial para entender o impacto da moeda no retorno dos investimentos. Ela mostra como as moedas do portfólio se relacionam entre si e com o real, ajudando a minimizar o risco total ao combinar ativos de movimentos distintos.

Usando os modelos proprietários da BlackRock, podemos avaliar vários fatores de risco, desde fatores macroeconômicos como taxas de juros e inflação até a exposição cambial. Por exemplo, estimamos que uma carteira 100% Ibovespa (índice da bolsa brasileira) tem risco atual de aproximadamente 25% e o S&P500 (índice da bolsa americana) de 19%. Já uma carteira 50% Ibovespa e 50% S&P500 teria risco total de 15.5%, ou seja, mais baixo que ambos o Ibovespa e o S&P500 isoladamente. Quando Ibovespa e S&P500 são combinados em uma carteira, o risco total se reduz por causa da diversificação, da correlacao negativa entre estes dois ativos.

A correlação também pode mudar ao longo do tempo a depender das condições do mercado e da política monetária. Por exemplo, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2016, a correlação entre o Ibovespa e o S&P 500 foi negativa (-0.27)3, indicando que os dois mercados se moviam em direções opostas. Isso se deveu principalmente à forte desvalorização do real em relação ao dólar, que beneficiou as empresas exportadoras brasileiras e prejudicou as empresas importadoras americanas.

GERENCIAR O RISCO

Gerenciar o risco cambial é essencial para os investidores que buscam proteger seu patrimônio e maximizar seus retornos. Existem várias maneiras de gerenciar esse risco, dependendo do perfil e dos objetivos de cada investidor. Por exemplo, se a visão do investidor brasileiro for favorável à moeda estrangeira – ou seja se espera que o dolar americano ficará mais forte que o real durante certo período, por exemplo – investir em ativos com exposição ao dolar pode ser uma maneira de expressar esta visão de mercado. Ao mesmo tempo, neste cenário, o investidor poderia proteger sua carteira contra perdas no preço do ativo local,reduzindo eventuais impactos negativos no seu investimento.

Hoje, o investidor individual tem opções eficientes para fazer o hedge e gerenciar o risco cambial. Algumas formas de gerenciar o risco cambial podem ser combinadas de acordo com o perfil de risco do investidor, seu horizonte de investimento e sua visão de mercado. Uma dessas opções é a análise de sensibilidade ou teste de estresse, que consiste em simular cenários extremos de variação cambial e avaliar o impacto que eles teriam sobre o portfólio.Também existem estratégias que usam várias formas de hedge, ou seja, que gerenciam o risco cambial através de instrumentos financeiros como po exemplo os derivativos.

Outra estratégia é a diversificação, que se mostra como a principal defesa para aqueles que desejam atenuar os efeitos das variações cambiais em seus investimentos. Alocando recursos em uma variedade de moedas, ativos, setores e mercados, conseguimos diminuir a dependência de uma única fonte de risco. Essa abordagem pode auxiliar na estabilização das oscilações do portfólio e na exploração de oportunidades em diversos mercados.

Por fim, o investidor deve ter um profundo conhecimento de seu portfólio para saber quais são as moedas, os ativos, os setores e os países que o compõem e como eles são afetados pela taxa de câmbio. Com isso, é possível tomar decisões mais informadas e ajustar a carteira de acordo com as expectativas e objetivos.

Início da citação

“A diversificação é a maior aliada de quem busca mitigar o impacto das flutuações cambiais em sua carteira. Ao distribuir os investimentos entre diferentes moedas, ativos, setores e mercados, é possível reduzir a concentração de risco em uma única fonte. Isso pode ajudar a suavizar as flutuações do portfólio e a aproveitar as oportunidades em diferentes mercados.”

Cindy Shimoide, Diretora de Consultoria de Portfólios para América Latina

BDRS DE ETFS

A flutuação cambial é um fator que deve ser considerado por quem investe no exterior, pois ele pode influenciar o risco e o retorno dos investimentos. Vários fatores macroeconômicos globais podem influenciar nas mudanças das taxas de câmbio e, consequentemente, na exposição cambial dos investimentos, como as decisões de política monetária dos principais bancos centrais, bem como os indicadores econômicos globais, o crescimento do PIB, a inflação, o saldo comercial e o desemprego, entre outros.

A diversificação sempre é a melhor forma de proteção. A diversificação internacional, ou seja, a inclusão de ativos fora do mercado doméstico, com foco no longo prazo, mesmo com o dólar baixo ou alto, é uma medida para proteger seus recursos no longo prazo. Uma forma de fazer isso é investir em BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de ETFs, que são certificados de depósito emitidos no Brasil lastreados em ativos estrangeiros.

Os BDRs de ETFs permitem que o investidor invista em empresas de diversos setores e países, sem precisar abrir uma conta no exterior ou lidar com a burocracia e os custos de operar em moedas estrangeiras4. Atualmente, há 141 BDRs de ETFs lastreados em ETFs geridos pela BlackRock, proporcionando uma variedade de opções para quem busca diversificação global.

Os BDRs de ETFs permitem uma exposição ampla aos mercados, seja regional, como bolsas globais, ou de países emergentes, ou até zonas geográficas como Europa e Ásia.Esses produtos permitem acesso a exposições pouco contempladas no mercado de ações brasileiro, pois são compostos por empresas globais negociadas no exterior.

Também existem BDRs de ETFs de setores específicos e de diversificação geográfica e cambial. Há opções para diferentes perfis de investidores, com exposição a mercados diversos e se ajustam a perfis de risco variados.

Início da citação

“Os BDRs de ETFs permitem diversificar a exposição cambial entre ativos locais e estrangeiros. Também dão acesso a empresas de diversos setores e regiões, com diferentes exposições cambiais, sem precisar enviar dinheiro para fora do país ou abrir conta em corretora estrangeira.”

Cindy Shimoide, Diretora de Consultoria de Portfólios para América Latina